Na semana em que se inicia mais uma edição da Volta a Itália em bicicleta (Giro D’Italia) os olhos dos portugueses estão todos postos em João Almeida, um dos principais candidatos à vitória final (algo que, a acontecer, será inédito para o nosso país). O IPDT fez um levantamento de alguns dos principais dados relacionados com o desenvolvimento do cycling, enquanto atividade turística na Europa e em Portugal, e apresenta 3 recomendações estratégicas para desenvolver este produto.
Cycling: uma das principais apostas do turismo português
Após várias iniciativas desenvolvidas de forma isolada, no final de 2017, o Turismo de Portugal lançou a plataforma Portuguese Trails, um projeto que teve como objetivo centralizar toda a oferta nacional de cycling (e walking). Desde então, esta tem sido uma das principais apostas do turismo nacional, em conjunto com a Federação Portuguesa de Ciclismo, ao nível da estruturação da oferta e, sobretudo da comunicação junto de mercados estratégicos.
Um dos melhores exemplos do trabalho desenvolvido são os cerca de 70 “Centros Cyclin’ Portugal”, infraestruturas totalmente equipadas (ex: oficina self service, espaço para lavagem de bicicletas, balneários…) e que dão apoio aos ciclistas que exploram os percursos cicláveis desse território.
3 recomendações estratégicas do IPDT, por perfil de ciclista
De acordo com Guia Orientador “Ciclismo e Dinamização da Atividade Turística”, podemos agrupar os turistas que procuram atividades de cycling em três grandes grupos: ciclistas profissionais; ciclistas semiprofissionais, ou amadores; e ciclistas de recreio.
Ciclistas profissionais
Viajam normalmente com a sua equipa e procuram destinos que lhes permitam treinar para os principais momentos da época desportiva. A pré-época do ciclismo profissional (janeiro) é o momento em que as equipas procuram realizar estágios, selecionando destinos com climas amenos. Portugal – sobretudo a região do Algarve – tem sido uma opção cada vez mais válida para as pré-épocas das principais equipas do pelotão internacional.
Recomendação estratégica do IPDT: Os estágios de pré-época podem representar uma oportunidade para galvanizar o turismo numa época em que, tradicionalmente, o setor tem menor procura. O clima nacional no inverno, as boas acessibilidades e a segurança, representam vantagens competitivas que devem ser exploradas no momento da comunicação do nosso destino. Porém, importa realçar que para acolher as principais equipas do pelotão internacional pode ser necessário que os alojamentos ajustem as suas práticas (ex: ementas do pequeno-almoço).
Ciclistas semiprofissionais ou amadores
Embora viajem muitas vezes de forma individual, procuram fazê-lo acompanhados por familiares ou amigos que partilhem os mesmos objetivos.
Quando viajam, procuram, muitas vezes, desafiarem-se em percursos realizados no ciclismo profissional, registando as suas marcas.
Em Portugal, subidas como a Senhora da Graça, Alto do Malhão ou a Serra da Estrela, são bastante procuradas. Na Europa, os Alpes e os Pirenéus são “mecas” do ciclismo.
Este perfil de ciclista participa regularmente em provas amadoras (ex: granfondos) sendo, muitas vezes, acompanhados por familiares, procurando, explorar os territórios nos dias antes ou depois da prova.
Recomendação estratégica do IPDT: O ciclismo tem vindo a explorar novas vertentes. O gravel é uma das vertentes que maior crescimento tem registado a nível internacional, com vários atletas a direcionarem as suas atenções para estas provas. Pode ser pertinente trabalhar esta área, estruturando e comunicando os percursos de gravel, e criando competições que visem alavancar a notoriedade nacional e internacional dos destinos nacionais.
Ciclistas de recreio e viajantes
Viajam em família ou em grupo de amigos, tendo, normalmente, entre 40 e 60 anos. Não têm a competição como principal motivação, e assumem um comportamento de visita mais calmo e fisicamente menos exigente. A bicicleta é um meio para explorar o destino, procurando percursos que combinem a natureza com o conhecimento do património cultural, sendo frequentes as paragens no percurso para descansar, visitar os principais pontos de interesse e falar com a comunidade.
Recorrem, regularmente, ao aluguer de equipamentos e visitam os destinos sobretudo nas épocas da primavera ou outono, quando as temperaturas são mais amenas.
Recomendação estratégica do IPDT: A segurança deve ser umas prioridades dos destinos que pretendam apostar neste tipo de turismo. A sensibilização dos próprios ciclistas – informando-os sobre os percursos recomendados, como devem circular em segurança e potenciais situações de perigo – e dos condutores – recomendando a adoção de uma condução defensiva nos locais onde é frequente a presença de ciclistas ou sempre que encontrem grupos no trajeto. As campanhas de sensibilização devem ser desenvolvidas em conjunto com as empresas de aluguer de equipamentos.
O cycling é, verdadeiramente, uma das áreas com maior potencial de desenvolvimento em Portugal, pelas caraterísticas naturais do território, pelas diversas infraestruturas de apoio aos atletas e pelos percursos que têm sido estruturados, que permitem posicionar o nosso país como um dos destinos europeus que melhor tem vindo a trabalhar este segmento.
Importa realçar que o sucesso desportivo de João Almeida (e de outros atletas portugueses) poderá ser fundamental para alavancar o cycling em Portugal, à semelhança daquilo que acontece atualmente com a Eslovénia de Tadej Pogačar e Primož Roglič, dois dos principais ciclistas do mundo, que com as suas inúmeras vitórias internacionais têm sido essenciais para promover o turismo esloveno. Assista a um dos vídeos promocionais desenvolvidos pela Feel Slovenia Eslovénia, com Tadej Pogačar