Não será à toa que a astronomia seja classificada como uma das mais antigas ciências do mundo, desde muito cedo que a observação empírica do contexto celeste se revelou fundamental na compreensão do tempo e espaço. Poderá dizer-se, mesmo, que o fascínio pelos astros constitui um verdadeiro legado transmitido pelos povos da antiguidade que, neles, vislumbravam divindade e poder.
Passados milhares de anos e milhares de descobertas, o homem continua a contemplar a imensidão do cosmos, questionando-se sobre o sentido da sua pequenez.
Hoje, dia 8 de abril de 2024, ocorrerá um eclipse solar total com uma duração máxima de 4 minutos e 28 segundos. A trajetória da Lua irá cruzar-se entre o Sol e a Terra, bloqueando a observação total do Sol no México, na parte oriental dos Estado Unidos da América (EUA) e no Canadá.
Há muito esperado, este evento é encarado como a “chave de ouro” da lotaria do turismo para os destinos que integram o denominado “caminho da totalidade”, conjunto de localidades com anfiteatro privilegiado sob a totalidade do eclipse. Várias pesquisas apontam que este venha a ser um dos maiores eventos de astroturismo de sempre, uma vez que alcançará 5 fusos horários diferentes e será, no caso dos EUA, em específico, o único a ocorrer nas próximas duas décadas.
De acordo com o estudo de Michael Zellerm, co-fundador do website Great American Eclipse, estima-se que 1 a 4 milhões de pessoas se desloquem até ao “caminho da totalidade” para assistir ao eclipse. O modelo desenvolvido pelo cartógrafo determina quantas pessoas vivem dentro ou nas proximidades do “caminho da totalidade” e quais as rotas mais curtas para chegar até ele.
A confirmar as previsões de afluência do evento, algumas OTA’s registaram um crescimento do número de pesquisas e reservas para a data prevista. Em março, a Expedia comunicou o aumento exponencial das pesquisas por hotéis disponíveis na data do evento e para os estados de Vermont (+1.155%), Arkansas (+985%), Ohio (+705%), New York (+645%) e Indiana (+545%), todos estes incluídos na trajetória do eclipse.
A verdade é que existe uma grande expectativa em relação a este fenómeno, especialmente no meio científico que ambiciona recolher dados de possíveis alterações comportamentais dos animais, variações químicas e físicas da atmosfera, bem como determinar a dimensão do Sol, através da análise da coroa solar que estará no seu auge (parte externa visível da atmosfera solar).
Contudo, o dia poderá desvendar outras surpresas. Para contracenar com o eclipse solar total poderá, ainda, surgir no palco celeste o excêntrico cometa 12P/Pons-Brooks, conhecido como “Cometa do Diabo”. Vários astrónomos acreditam que quando a sombra da lua bloquear temporariamente a face do sol, o cometa se torne facilmente visível.
De facto, o ano de 2024 oferece um calendário celeste completo, desde o eclipse solar total de abril, à chuva anual de meteoros Perseidas, passando pelo eclipse lunar parcial e chegando às brilhantes e coloridas auroras boreais, que estarão mais intensas este ano, devido ao pico do ciclo da atividade solar. Restarão poucas dúvidas, no que concerne a ascensão e/ou afirmação do astroturismo como uma tendência que veio para ficar.
Ainda assim revela-se importante mencionar que a poluição luminosa constitui um entrave à contemplação natural do cosmos, devido à presença de luzes artificiais que criam uma espécie de névoa luminosa no céu. Segundo o “ The New World Atlas of Artificial Sky Brightness”, 1/3 da humanidade não consegue observar a Via Láctea a partir das suas casas, em resultado deste fator.
Relembra-se que Portugal se apresenta no topo da lista de melhores países para desfrutar de astroturismo. O Grande Lago do Alqueva, no Alentejo, foi o primeiro destino no mundo a receber o selo de qualidade – Starlight Tourism Destination Certification, pela fundação Starlight, com o apoio da UNESCO, da Organização Mundial do Turismo e do Instituto Astrofísico das Canárias (IAC).
Infelizmente, em Portugal, o eclipse será apenas parcial, com início às 19h01 minuto e término às 20h36 minutos, sendo que só será visível em algumas localidades dos Açores.
Mas, caro leitor, não desespere! Os anos que se avizinham propõem espetáculos memoráveis. A Península Ibérica irá testemunhar, entre 2026 e 2027, dois eclipses solares totais e um eclipse solar anular, uma sequência de aparições deveras raríssima tanto no tempo como no espaço geográfico.