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Os EUA têm sido o grande protagonista do crescimento do turismo em Portugal. De acordo com o caderno especial da Revista de Tendências Turismo25, intitulado “Good Morning America: a ascensão do mercado americano em Portugal”, só em 2023 o país recebeu mais de 2 milhões de turistas americanos, um aumento de 35,7% face a 2022, com 4,6 milhões de dormidas e mais de 2 mil milhões de euros em receitas.

Este desempenho notável do mercado norte-americano resulta de campanhas promocionais eficazes, aumento das ligações aéreas e da consolidação de Portugal como destino seguro e autêntico.

No entanto, em 2025, este cenário pode mudar. As novas medidas da administração Trump incluem um pacote de tarifas comerciais sobre importações, com taxas que variam consoante a origem dos produtos. No caso da China, podem atingir 125%, afetando setores como automóveis elétricos e metais industriais, segundo o New York Post. Já para produtos da União Europeia, Canadá e México, as tarifas vão de 10% a 50%.

Este novo contexto está a gerar instabilidade económica nos Estados Unidos, com impacto direto nos hábitos de consumo e nas decisões de viagem dos norte-americanos.

Poder de compra em queda nos EUA?

De acordo com o Wall Street Journal, o índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan caiu para 50,8 em abril de 2025 — o segundo valor mais baixo da história recente dos EUA. Esta queda está associada ao aumento dos custos de vida e ao clima de incerteza provocado pela guerra comercial. A MarketWatch reforça que as expectativas de inflação para os próximos 12 meses subiram para 6,7%, o nível mais elevado desde 1981.

Consequentemente, muitos consumidores dos EUA estão a adotar comportamentos mais cautelosos: reduzem gastos, viajam menos e adiam decisões de consumo não essenciais. Para destinos como Portugal, isso pode traduzir-se em viagens menos frequentes, estadias mais curtas e possível quebra de receitas no setor do turismo em Portugal.

Segundo a Reuters, a União Europeia considera as tarifas dos EUA “injustificadas” e procura manter canais de diálogo abertos para evitar uma escalada. Emmanuel Macron e outros líderes europeus já alertaram para os riscos de uma nova guerra comercial entre os dois blocos, com efeitos colaterais em áreas sensíveis como o turismo.

Turistas portugueses nos EUA podem esperar um novo clima de restrições

Com o regresso de Trump à presidência, foram reintroduzidas políticas de imigração mais rigorosas nos EUA, afetando tanto imigrantes como turistas. O governo expandiu o uso da “remoção acelerada”, permitindo deportações rápidas longe das fronteiras (IRAP), e declarou emergência nacional na fronteira sul, com reforço militar e tecnológico.

Embora os requisitos de entrada para portugueses — como a autorização ESTA — não tenham sido alterados, o ambiente mais restritivo pode tornar a experiência de entrada nos Estados Unidos menos acolhedora. Há registo de triagens mais longas, aumento de recusas à chegada e exigência de provas adicionais, como planos de viagem, alojamento e vínculo profissional.

A Embaixada de Portugal nos EUA ainda não emitiu comunicados formais, mas recomenda-se o acompanhamento regular dos canais oficiais antes de qualquer viagem.

Estarão os EUA a isolar-se do mundo?

Apesar das incertezas, a TAP Air Portugal continua a apostar fortemente no mercado dos EUA. A companhia anunciou três novas rotas para 2025 — Lisboa–Los Angeles, Porto–Boston e Terceira–São Francisco. Segundo a RTP, prevê-se um total de 101 voos semanais para a América do Norte, reforçando a confiança na retoma da procura por parte dos viajantes dos EUA.

Em contraste, a Confederação do Turismo de Portugal (CTP), citada pelo Observador, alerta para os riscos de uma eventual quebra no poder de compra dos turistas americanos. Tal poderá refletir-se diretamente na procura turística, exigindo uma resposta estratégica por parte das entidades do setor.

Portugal deve agir e reforçar os mercados emissores — sem perder os EUA de vista

O mercado norte-americano representa uma componente essencial das receitas geradas pelo turismo em Portugal. Contudo, face à crescente instabilidade económica e às tensões geopolíticas, é urgente reforçar a resiliência do destino Portugal.

Seguindo a Estratégia Turismo 2027, Portugal deve acelerar a diversificação de mercados emissores. Além dos EUA, são prioritários: Espanha, Reino Unido, França, Alemanha, Irlanda, Canadá, Brasil, países nórdicos e China. Mercados emergentes como Japão, Coreia do Sul e Índia podem contribuir para mitigar riscos e alargar a base de visitantes.

Outras ações prioritárias incluem:

  • Apostar em produtos turísticos de maior valor acrescentado, como cultura, natureza, enoturismo e turismo de negócios;

  • Promover a mobilidade regional e a sazonalidade, equilibrando fluxos ao longo do ano;

  • Reforçar a inteligência de mercado e a capacitação digital do setor, antecipando tendências e ajustando a oferta.

Portugal deve continuar a cultivar a sua relação com os EUA, mantendo canais diplomáticos abertos, mas também preparar-se para atuar com flexibilidade perante cenários adversos.

Num setor tão exposto às dinâmicas globais como o turismo, é a capacidade de agir com estratégia — e não apenas reagir — que determinará quem lidera e quem fica para trás.

 

 


Fontes:

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