Impactos e soluções para um setor afetado por fenómenos naturais cada vez mais intensos e frequentes.
Com certeza que o nome Milton lhe é familiar, não tivesse o mesmo sido noticiado recentemente como uma das possíveis “tempestades do século”.
É do conhecimento público que a temporada dos furacões, no Atlântico, se inicia a 1 de junho e se prolonga até 30 de novembro, sendo o mês de maio dedicado à mitigação e preparação destes fenómenos. Assim sendo, em maio do presente ano, a NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) divulgou uma previsão de 17 a 25 tempestades a decorrer na época de 2024, intervalo mais elevado alguma vez estimado, em resultado do aumento das temperaturas das águas oceânicas e variações entre os fenómenos El Niño e La Niña.
Dos diversos acontecimentos que têm marcado este mês de outubro, a nível mundial, a temática dos furacões destacou-se nas últimas semanas. A crescente frequência e intensidade destes eventos reacende o debate sobre a sua estreita ligação com a crise climática.
Num período de 24 horas, Milton passou de uma tempestade tropical para um furacão de categoria 5, classificação mais elevada possível, registando-se ventos de 290 km/h. Enquanto se dirigia para a Flórida, este enfraqueceu para categoria 3, acabando por atingir a costa, Siesta Key, na noite de 9 de outubro de 2024.
Como Milton afetou o turismo da Flórida?
A Flórida posiciona-se como um dos destinos turísticos mais procurados nos EUA, devido ao seu clima ameno e às suas praias acessíveis durante todo o ano. Dados recentes, divulgados pelo Visit Florida, indicam que o estado recebeu, em 2023, mais de 140,6 milhões de turistas, número que traduz a relevância do setor para o crescimento económico local. Uma grande parte dos seus visitantes são turistas nacionais, estando o mercado canadiano a liderar a procura internacional.
A ocorrência de fenómenos extremos não é uma novidade para este estado que, semanas antes de receber o Milton, foi afetado pelo furação Helene, de categoria 4, contexto sequencialmente agravante e desgastante.
Importa, por isso, compreender quais as consequências diretas e indiretas destes eventos para o setor do turismo.
Impactos diretos:
- Infraestruturas e Logística: Diversos resorts costeiros foram obrigados a evacuar e cancelar reservas, estando muitos destes empreendimentos destruídos ou, ainda, a avaliar danos;
- Mobilidade: O aeroporto Internacional de Orlando, o sétimo mais movimento do país e o mais movimentado do estado, encerrou as suas operações de imediato. Quedas de energia e danos em acessos rodoviários condicionaram várias deslocações, incluindo de equipas de socorro;
- Experiência: Walt Disney World, Universal Orlando, SeaWorld e Universal’s Halloween Horror Nights (festival de outono) fecharam as suas portas, sem aviso de possível abertura nos dias subsequentes.
Impactos indiretos:
- Reputação do destino: A recorrência destes eventos no destino gera um sentimento de insegurança entre os visitantes que acabam por não regressar e recomendar;
- Custos operacionais: Alojamentos, restauração e operadores enfrentam custos acrescidos com reparações, melhorias de sistemas e infraestruturas. Os valores das apólices dos seguros, pós evento, constituem uma preocupação.
- Sustentabilidade: Vários hotéis e resorts com piscinas de dimensão considerável foram obrigados a drenar e limpar as áreas, recorrendo, posteriormente, a novas águas limpas e frescas. Alguns destroços e resíduos deixados pelos ventos estão, agora, depositados em áreas naturais e protegidas, ameaçando estes habitats.
Ainda assim, deverá destacar-se que muitos alojamentos tomaram a iniciativa de combinar esforços e sinergias para atender às necessidades das autoridades e equipas de socorro, abrindo as suas portas e disponibilizando recursos e abrigo. Foram noticiados diversos testemunhos de visitantes satisfeitos com os serviços e políticas de segurança dos seus alojamentos, que não se demoraram a garantir planos de contingência, alternativas de conforto e animação durante o confinamento.
Portugal não escapa a esta realidade.
A atividade sismovulcânica dos arquipélagos Açores e Madeira representa um desafio significativo para o turismo local, dada a sua localização em áreas geologicamente ativas. Nos últimos anos, ambas regiões têm trabalhado a sustentabilidade, com o objetivo de encontrar um equilíbrio entre a sua oferta turística e os riscos associados à mesma, cientes de que a natureza é o seu maior recurso.
Algumas soluções para antecipar e minimizar os impactos
Infraestruturas mais resilientes, sistemas de monitorização mais avançados e planos de contingência, e gestão de crise, mais detalhados constituem ferramentas imprescindíveis, com resultados significativos na segurança de ambos, residentes e visitantes. Porém, a sustentabilidade do setor do turismo também se encontra dependente de campanhas de marketing e sensibilização que restaurem e alavanquem a confiança dos turistas, salvaguardando o seu bem-estar na iminência de eventos extremos.
O estabelecimento de parcerias público-privadas revela-se, de igual modo, essencial, na medida em que poderá garantir celeridade no acesso a recursos financeiros e logísticos, mas também na divulgação de informações claras e transparentes sobre os riscos e medidas de segurança a adotar, garantido uma maior diversidade e alcance destes suportes.