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Tente não se apaixonar!

A Escócia estava na minha bucket list há muito tempo. Estima-se que existam cerca de 3 mil castelos no país, um paraíso para quem, como eu, é apaixonada por história e património. Sim, confesso! Filmes como Harry Potter, 007 ou a série Outlander, também contribuíram para me deixar a sonhar com o destino. A oportunidade finalmente surgiu e a realidade superou em muito a ficção!

A Escócia é um país de pessoas acolhedoras e simpáticas, que nos recebem de braços abertos e com um sorriso. Os escoceses são orgulhosos embaixadores da sua história, das tradições e dos costumes, e gostam de saber de onde vimos, para onde vamos, e se estamos a gostar da experiência. Os castelos, imponentes palcos de batalhas épicas, testemunhos de histórias de reis e rainhas, transportam-nos para um mundo de fantasia, enquanto as montanhas e os lagos pintam paisagens que nos tiram o fôlego, a cada curva. É um destino que nos vai encantando, à medida que o conhecemos, para no fim nos deixar completamente rendidos.

A opção para esta viagem nunca foi visitar só as grandes cidades. As Highlands (terras altas escocesas) eram a prioridade. Para uma jornada deste tipo, o ideal é fazer uma roadtrip e ficar no país durante, pelo menos, uma semana. Nós só fomos 5 dias, por isso tivermos de abreviar bastante o roteiro inicial. Uma pena…

Viajámos logo nos primeiros dias de primavera e, enquanto nos despedíamos do Porto com amenos 18 graus, as temperaturas na Escócia nunca foram além dos 6 ou 7º C. O gorro, as luvas e o casaco quente foram presença constante, apesar de alguns escoceses já passearem tranquilamente de calções pelas ruas.

Algumas dicas práticas.

QUANDO VIAJAR: Embora não tenhamos viajado numa má altura (fim de março), creio que o melhor é visitar o país entre abril e o final de setembro, já que muitos locais de visita, simplesmente encerram durante os meses mais frios. Alguns já estavam abertos quando viajámos, outros só abriam novamente a 1 de abril. No verão os dias são muito longos e amenos e há muitos turistas, mas o alojamento e os voos são consideravelmente mais caros.

VIAGEM: O nosso ponto de partida e chegada foi o aeroporto de Edimburgo. Tem voos diretos para o Porto, e a viagem dura, aproximadamente, 2h30.

FUSO-HORÁRIO: é o mesmo que em Portugal (GMT Londres). Amanhecia por volta das 6:15 e anoitecia pelas 18:30.

DINHEIRO: Usámos o cartão Revolut para efetuar pagamentos e evitar taxas. Acabamos por levar algumas libras, mas realmente não é necessário. Pudemos usar cartão bancário em todos os pagamentos, até nas bancas de rua e parquímetros.

PASSAPORTE: Como a Escócia não pertence à UE, é necessário passaporte para viajar para o país. Por vezes a emissão do passaporte pode demorar (sobretudo conseguir agendamento nos serviços do IRN) por isso é recomendado tratar do processo com cerca de 2 meses de antecedência).

CONDUÇÃO: Se a intenção for alugar um carro, é conveniente levar uma Licença Internacional de Condução, que pode ser obtida no IMT (disponível agendamento online). Custa 30€ e é entregue na hora. Não costumam pedir nas agências de rent-a-car mas este documento é necessário para poder conduzir. Não esquecer que, no Reino Unido, o volante fica do lado direito da viatura e a condução é à esquerda, por isso facilita optar por um carro de mudanças automáticas. Os limites de velocidade estão assinalados em milhas e não precisa de se preocupar com portagens, porque não existem.

Feito este breve preâmbulo, vamos começar?

O roteiro inicial era bem mais ambicioso, mas rapidamente percebemos que para o tempo que tínhamos disponível, não ia ser possível concretizar, por isso fomos cortando para o que consideramos essencial. Tivemos de abdicar de alguns locais que queríamos mesmo muito visitar, como por exemplo, a ilha de Skye. Terá de ficar para uma próxima visita!

DIA 1

Chegámos a Edimburgo ao final da tarde por isso o primeiro dia foi só para recolher o carro (que demorou uma eternidade), jantar, dar um breve passeio para ver a cidade à noite e adaptarmo-nos à temperatura e ao vento frio. Deitar tarde não era opção porque, para aproveitarmos bem os dias, precisávamos de acordar cedo de manhã.

DIA 2

Apesar de termos chegado ao país via Edimburgo, começamos a nossa viagem em direção ao norte, rumo a Inverness, a capital das Highlands, com vários pontos de paragem pelo meio.
O primeiro foi Midhope Castle. Fãs da série Outlander vão reconhecer este icónico local como Lallybroch. Este castelo do século XVI, localiza-se a uns 30 minutos de Edimburgo e não está aberto todo ano por isso, por isso é conveniente confirmar as datas de abertura e encerramento, bem como horários de acesso, que variam ao longo do ano (isto é válido para todas as restantes atrações). A visita é apenas ao exterior.
Muito próximo localiza-se a Hopetoun House, um belíssimo castelo do séc. XVII, residência do Conde de Hopetoun. Na série Outlander, foi retratado como a residência do Duque de Sandringham.
Seguimos em direção ao Castelo de Blackness, próximo de Linlithgow. Esta fortaleza do séc. XV localiza-se numa baía e tem uma forma que se assemelha à de um barco, pelo que é conhecido como o navio que nunca navegou. De todos os cenários de Outlander, este é o mais impressionante e bem-preservado, e corresponde ao icónico Fort William, onde o highlander Jamie Fraser é preso e chicoteado.
Linlithgow foi a paragem seguinte, onde fizemos um pequeno passeio pela pitoresca vila e pelo palácio, famoso por ser o local onde, em 1542, nasceu Mary Stuart, a Rainha dos Escoceses. O palácio está semidestruído, mas possui uma zona envolvente muito bonita, onde é possível percorrer os jardins junto ao lago com o mesmo nome, assim como visitar a medieval igreja de St. Michael.
Um pouco mais a norte, encontramos o Castelo de Stirling, um dos maiores e mais importantes do país, tendo sido atacado por diversas vezes ao longo da história. Foi uma das principais residências dos reis e rainhas escoceses, palco da coroação da rainha Mary Stuart e local de batismo do seu filho, o rei Jaime VI da Escócia (e Jaime I de Inglaterra). O castelo está em excelente estado e a visita muito bem organizada. Se for de carro, convém saber que o parque junto ao castelo tem um custo de 4£.

Dica.

Poderá valer a pena adquirir o Scotland Explorer Pass, que possibilita entrada gratuita em inúmeros locais na Escócia (incluindo nos castelos de Edimburgo e Stirling). Eu desconhecia a existência deste passe e acabei por comprar online os ingressos (em alguns casos fica mais barato comprar online do que na bilheteira). Como visitei bastantes locais, teria tido uma poupança muito significativa se tivesse comprado o passe.

Muito perto de Stirling, encontramos o Monumento Wallace, uma imponente torre de 67 metros, construída no século XIX em homenagem a Sir William Wallace, herói escocês do século XIII. Os visitantes têm acesso a estacionamento gratuito e no interior do monumento podem apreciar, por exemplo, a espada do grande guerreiro escocês, que mede quase 170 cm e pesa 3kg. Quando chegar ao topo dos 264 degraus, prepare-se para encontrar uma vista soberba sobre a cidade de Stirling e o vale do rio Forth.

Como ambos somos set-jetters, e grandes fãs de Outlander, o Castelo de Doune era ponto de visita obrigatório e foi a nossa paragem seguinte. Conhecido na série como Castelo Leoch, residência do clã Mackenzie, foi cenário de muitas cenas ao longo da primeira temporada da série. A visita ao castelo inclui um audioguia, narrado em inglês pelo próprio personagem principal, Jamie Fraser (o ator escocês Sam Heughan).
O castelo tem mais de 600 anos e foi mandado construir por Robert Stewart, o Duque de Albany, que governou a Escócia entre 1388 e 1420. Para além de Outlander, o local foi palco de gravações da série Guerra dos Tronos (fortaleza de Winterfell no episódio piloto) ou até de Monty Python e o Cálice Sagrado. Convém saber que existe estacionamento gratuito junto ao castelo.
Durante a manhã o tempo esteve encoberto, mas fomos tendo algumas abertas. Quando chegámos a Perth, chovia torrencialmente e não conseguimos sair do carro.
Uma pena, porque a cidade é muito bonita e tem uma ponte lindíssima sobre o Rio Tay. Também tínhamos previsto fazer um pequeno trilho em Kinnoull Hill Woodland Park, por um miradouro que tem uma vista soberba sobre Perth e o Rio Tay, mas tivemos de cancelar. Tentamos depois o Castelo de Scone, local de coroação dos antigos reis escoceses, mas estava fechado e só abria a 1 de abril. Que desilusão!

Continuámos rumo ao norte até chegarmos a Newtonmore, porque queríamos muito ver as casas típicas do Highland folk museum, um museu ao ar livre onde se pode visitar um pouco do passado da Escócia. À chegada, mais um balde de água fria: o museu estava fechado e também só abria no dia 1 de abril!
Nesse momento fiquei mesmo aborrecida comigo, por não ter investigado mais sobre os locais a visitar. Na verdade, nunca me passou pela cabeça que os espaços pudessem não estar abertos em março. Lesson learned!

Quando arrancámos em direção a Inverness, a minha expectativa era nula. O céu encoberto anunciava que estava prestes a chover. Lembro-me de olhar pelo vidro do carro e pensar como é que íamos conseguir visitar o campo de batalha de Culloden com aquele tempo! Como boa co-piloto que sou, embrenhada nestes pensamentos, adormeci uns 15 minutos, deixando o condutor entregue à sua sorte. Quando abri os olhos, estava um sol magnífico e um enorme arco-íris pintava o céu. Ainda pensei que estava a sonhar, mas fui percebendo que a Escócia é mesmo assim, e podemos ter as 4 estações num mesmo dia. Naquele momento senti-me acolhida, e soube que ia guardar aquela memória para sempre.

O campo de Batalha de Culloden (em Culloden Moor) é um local pesado. Foi aqui que, em 1746, aconteceu um dos episódios mais marcantes e sangrentos das guerras entre escoceses e ingleses, e que conduziu ao fim dos clãs e de grande parte da cultura e tradições das Highlands. Hoje, o local é um memorial a céu aberto, localizado perto de Inverness. Possui um Centro de Visitantes (cuja entrada é paga), onde estão expostos achados arqueológicos do campo de batalha, bem como uma explicação detalhada do levante jacobita.

Quando chegámos ao campo de batalha já o sol se punha. A luz era quente e harmoniosa sobre a vegetação. Um silêncio sepulcral, esmagador. Ao longo do caminho iam surgindo pedras com o nome dos clãs que participaram na batalha, assinalando o local onde os soldados foram sepultados. A maior parte delas estavam ornamentadas com flores que os visitantes iam deixando. Este é um local de visita obrigatório para quem já conhece (ou para quem quer conhecer) a história dos clãs e das terras altas da Escócia.

DIA 3 – As mágicas Highlands

O ponto de paragem seguinte foi Inverness (a capital das Highlands), que possui três pontes que atravessam o rio Ness. Vale a pena visitar a catedral da cidade e o castelo que, do alto de uma colina, vigia o povoado.
Não muito longe de Inverness fica o Castelo de Urquhart (mais um!), que embora esteja em ruínas, tem um bom centro de interpretação e uma vista muito bonita sobre o Lago Ness. Este é um dos locais abrangidos pelo Scotland Explorer Pass, por isso, é de aproveitar!

Continuámos a nossa viagem para oeste e, perto da vila de Dornie, onde três lagos se encontram, repousa o bucólico Eilean Donan Castle, um dos castelos mais bonitos e icónicos da Escócia. Eilean Donan significa “Ilha de Donan”, sobre a qual o edifício foi construído originalmente, no século XIII. Junto ao castelo existe um parque de estacionamento pago.

Enquanto atravessava a romântica ponte de pedra que dá acesso ao castelo, encantada com a magnitude da envolvente, senti-me noutra dimensão. O cenário tão arrebatador que quase nos engole, e não há grande forma de traduzir a experiência em palavras. Não é de estranhar que este seja um dos castelos mais cinematográficos do país, aparecendo em produções como “Highlander”, “Made of Honor” ou “Elizabeth: The Golden Age”.

Muito a contragosto tivemos de seguir viagem. O plano inicial incluía a ilha de Skye, que ficava a pouca distância do ponto onde estávamos, mas não tínhamos mais tempo.

Já rumo a Sul, fomos fazendo paragens em pontos como Fort William, com o imponente Ben Nevis, ainda coberto de neve, mesmo ali ao lado, ou Glencoe, um pitoresco e tranquilo vilarejo junto ao lago Leven. No rádio, o som das gaitas de fole ia acompanhando a viagem, enquanto o sol da tarde espreitava ocasionalmente entre as nuvens. No horizonte, o reflexo perfeito das montanhas nos lagos imóveis fazia lembrar os contos de fadas, e até custa a crer que lugares tão bonitos possam na realidade existir. Foi assim que a Escócia se foi entranhando, até nos deixar completamente apaixonados.

O último local que visitámos nesse dia foi Pitlochry, que fica mesmo no coração da Escócia e tem pessoas simpáticas, ar puro, belas paisagens, boa comida, lojas e muito para ver e fazer. O alojamento que escolhemos – Tigh Na Cloich – era incrivelmente cinematográfico, cheio de pormenores deliciosos, muito acolhedor e confortável e ainda nos serviu um típico pequeno-almoço escocês. Voltava já!

Por mais que quiséssemos ficar, era preciso seguir viagem porque faltava visitar Edimburgo. Tivemos de prescindir de Glasgow (imperdoável, eu sei).

DIAS 4 E 5

Quando chegámos a Edimburgo estava a chover, claro, mas enquanto procurávamos um parque de estacionamento perto do centro para deixar o carro, o tempo melhorou e não voltou a chover. Obrigada, Escócia, por nos receberes tão bem!
Quando pusemos o nariz na rua o ar era gélido e eu dei graças pela boina em tartan escocês que comprei nas Highlands, e me acompanhou até ao final da viagem.

Finalmente Edimburgo

Embora a cidade seja incrível e mereça um post próprio, porque realmente, são muitos os locais para conhecer, Edimburgo não me arrebatou. Eu já vinha tão encantada com as Highlands que não me consegui apaixonar pela cidade e acho que teria tido uma experiência muito melhor se tivesse feito o roteiro ao contrário. Fica a dica!
Ainda assim, o Castelo de Edimburgo foi o local que mais gostei. Emocionante ver o quarto onde o Rei James VI nasceu, em 1566, ou estar tão perto da lendária pedra do destino! Também não podia faltar o passeio pela Victoria Street, tomar um chá no Elephant House (pensavam que deixava o Harry Potter de fora, não?), visitar Dean Village ou subir ao Arthur’s Seat, entre muitos outros locais.

Deixo detalhes deste périplo citadino para um próximo post. Entretanto, vão tratando de marcar a viagem, garanto que vale mesmo a pena!

Sobre a autora
A Daniela é licenciada em Jornalismo e Ciências da Comunicação, pela Universidade do Porto. Começou o seu percurso profissional na RTP e especializou-se em Produção Gráfica Digital. Atualmente coordena o departamento de Comunicação do IPDT. Adora viajar e conhecer sítios novos, sobretudo aqueles que guardam histórias. Gosta da simplicidade da vida, da genuinidade das pessoas e da autenticidade dos momentos.

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