Na Suécia, os médicos “podem” prescrever viagens e experiências como parte do tratamento da mente e do corpo.
A campanha promocional, intitulada “The Swedish Prescription”, foi lançada para promover a saúde através do contacto com a natureza, da fruição das tradições culturais e do lazer saudável como complemento às terapias médicas.
A ideia da campanha é simples, mas revolucionária: a saúde não se trata apenas com medicamentos e protocolos clínicos, mas também com experiências que restauram o equilíbrio interior.
Um passeio na floresta, um mergulho num lago gelado, ou uma caminhada silenciosa, quando feito com intenção terapêutica, pode reduzir o stress, melhorar o humor e até reforçar o sistema imunitário.
Estudos de universidades escandinavas e britânicas já mostraram que o contacto regular com ambientes naturais pode reduzir sintomas de depressão em até 20% e de ansiedade em 25%, ao mesmo tempo que melhora o sono e a concentração.
E se isto se torna-se mais do que uma campanha promocional?
Portugal seria possível?
Portugal tem uma vantagem natural enorme. É um país com um património natural diversificado, de montanhas e planícies, de praia e campo, com um clima ameno, tradições culturais bem preservadas e uma gastronomia de base mediterrânea variadíssima. Tudo aquilo que os suecos estão agora a “prescrever” dentro do seu país – o descanso, o contacto com a natureza e a conexão com o essencial — faz parte da nossa essência.
O que falta é integrar este património num modelo conjunto de saúde e desenvolvimento turístico.
Atualmente, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) está sobrecarregado, enfrentando escassez de recursos humanos, filas de espera e pouca margem orçamental para investir em prevenção.
Segundo o estudo da Comissão Europeia, The State of Health in the EU – Portugal 2023, os níveis de ansiedade e depressão em Portugal estão entre os mais elevados da UE. A acrescentar a estes dados, de acordo o Estudo Nacional de Saúde 2025, da Marktest/Medicare, cerca de 34,5 % dos portugueses entre os 18 e os 64 anos experimentaram, nos últimos 12 meses, sintomas relacionados com saúde mental (ansiedade, depressão e burnout).
Neste contexto, a Ordem dos Psicólogos afirma que, em Portugal, 2 em cada 10 trabalhadores sofrem de problemas de saúde psicológica, facto que se reflete em perdas de produtividade.
Há, assim, forte evidência de que saúde mental importa muito para a produtividade e para as ausências no trabalho em Portugal. A depressão, a ansiedade e o burnout estão efetivamente entre as causas relevantes de baixa médica e perdas de produtividade no país, sendo que uma medida semelhante à implementada pela Suécia talvez pudesse fazer parte de uma solução integrada de melhoria da condição da saúde mental em Portugal.
Como poderia funcionar em Portugal?
Para que uma medida desta natureza fosse exequível, seria necessário criar um programa-piloto de “prescrição social” para se compreender os efeitos da sua implementação e os reais impactos na saúde e na economia. Este teria que acautelar áreas de intervenção como:
- Identificação dos pacientes-alvo
Médicos de família e psicólogos poderiam identificar pacientes com stress crónico, ansiedade, burnout ou solidão. - Estabelecimento de parcerias com regiões e programas certificados para o fim em questão
Cada prescrição poderia ser encaminhada para uma rede de programas certificados, geridos por autarquias, entidades regionais de turismo, e/ou empresas locais de animação turística. - Acompanhamento e avaliação
Consultas de acompanhamento pós-experiência para se medir o real impacto da intervenção. - Financiamento e partilha de custos
Necessidade de se estudar um modelo de participação entre SNS, pacientes e programas municipais ou europeus.
Impactos no turismo nacional e nas regiões despovoadas
Aqui pode residir uma grande oportunidade para Portugal:
- Revitalização das regiões do interior
Zonas como Trás-os-Montes, Beira Alta e Alentejo Interior poderiam transformar-se em destinos terapêuticos nacionais.
Aldeias com poucos habitantes poderiam acolher pequenas unidades de bem-estar, caminhadas, programas de silêncio combinados com natureza, residências artísticas ou experiências agrícolas.
Isto significaria mais emprego, mais rendimento local e mais movimento ao longo do ano.
- Turismo regenerativo
Aposta em turismo regenerativo e de bem-estar – de pequena escala, sustentável, com impacto social e ambiental positivo.
Portugal poderia posicionar-se como referência europeia de “saúde em movimento”, combinando medicina, cultura e hospitalidade.
- Educação e orgulho local
Ao transformar o território em espaço de cura e experiência, as comunidades locais tornam-se parte ativa do processo.
O orgulho regional renasce quando o que antes era visto como “isolamento” passa a ser “refúgio terapêutico”.
Uma oportunidade para pensar diferente
A campanha sueca é um lembrete de que a saúde não se cuida apenas nos hospitais, mas na forma como vivemos, respiramos e nos relacionamos com o mundo.
Portugal, com o seu património natural e cultura acolhedora, tem tudo o que é preciso para transformar esta ideia numa política pública de bem-estar e desenvolvimento local.
Sendo necessário pensar diferente, é imperioso perceber que prevenir é investir – e que cuidar da mente pode também contribuir para desenvolver e regenerar o território.
Uma simples “prescrição de viagem” pode curar mais do que o indivíduo: pode curar comunidades esquecidas, revitalizar o interior e inspirar um novo modelo de país – mais saudável, mais solidário e mais sustentável.
Artigo de
Mónica Montenegro
Diretora Executiva | Marketing e Desenvolvimento
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