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Com a realização dos Jogos Olímpicos em 1992, Barcelona, que era uma cidade portuária industrial transformou-se num dos destinos turísticos mais visitados do mundo

Barcelona fez um grande investimento na melhoria das infraestruturas, mas a decisão mais impactante foi a extinção da linha de comboio inativa que permitiu recuperar 4,5 km de praia que estavam inutilizados. Estas mudanças colocaram Barcelona no mapa de destinos mais procurados para visitar e o número de turistas subiu exponencialmente. 

Esta, que é uma cidade de contrastes marcantes e transformações dinâmicas, tem-se tornado num exemplo do impacto negativo do turismo na malha urbana, na distribuição de fluxos e na comunidade local. O aumento do turismo trouxe prosperidade económica, mas também desencadeou uma série de problemas que culminaram no fenómeno de overtourism. 

Em 2017 existiam cerca de 125 mil camas registadas legalmente em hotéis e apartamentos turísticos e cerca de 50 mil camas ilegais. 

A pressão do overtourism em Barcelona levou tanto a um aumento nos preços de arrendamento como à gentrificação, forçando muitos residentes a deixarem os bairros tradicionais e a mudarem-se para a periferia. A presença massiva de turistas em locais emblemáticos e zonas históricas tem vindo a gerar tensão entre visitantes e moradores.  

O comércio tradicional tem vindo a ser substituído por lojas de souvenires, de aluguer de bicicletas e cafés turísticos, serviços estes que tanto são caros como desnecessários para os residentes. Assim, o sentimento de revolta da comunidade local tem-se desenrolado em diversas manifestações públicas de descontentamento. 

Já em 2017 a cidade começou a ser coberta por graffities com frases que expunham o descontentamento da população em relação ao turismo excessivo, tais como “turistas, vão para casa”, “a tua viagem de luxo é minha miséria diária” e “turismo: nova forma de terrorismo”.  

Mais recentemente, no início de julho de 2024, os residentes de Barcelona utilizaram pistolas de água para “afugentar” os turistas que jantavam nas esplanadas das zonas mais populares da cidade. Estes atos demonstram a frustração dos moradores causada pelo impacto negativo que o turismo tem no seu dia-a-dia. 

Las Ramblas Barcelona Overtourism

O caso Las Ramblas
Uma artéria em
(hiper)tensão

Las Ramblas, a artéria principal de Barcelona que termina na zona portuária, conhecida pela sua atmosfera vibrante, tem sofrido com a sobrelotação causada pelos turistas provenientes dos cruzeiros. Estes turistas permanecem apenas algumas horas em Barcelona e inundam as ruas estreitas desde o World Trade Center à Praça da Catalunha e contribuem para o sentimento de “sufoco” experienciado pelos residentes bem como para a descaracterização da avenida que passou a ser um símbolo do turismo em massa.  

Em resposta a este problema, o município implementou restrições significativas ao acesso dos navios de cruzeiro ao porto central da cidade. Desde outubro de 2023 que a maioria dos cruzeiros deixou de poder atracar no cais do World Trade Center, localizado a apenas 10 minutos a pé de Las Ramblas obrigando os passageiros a desembarcam no terminal Moll d’Adossat, na extremidade sul da cidade onde passam a ter de apanhar um autocarro que leva cerca de 30 minutos a chegar ao centro.  

Outras medidas que fizeram headlines internacionais: 

  • Linha de autocarro 116 removida do Google Maps: Em resposta ao uso excessivo da linha 116 por turistas, Barcelona tomou a decisão inédita de remover a rota do Google Maps. Após inúmeras queixas dos moradores o município conseguiu apagar a rota do Google Maps e do Maps da Apple. Esta medida visou libertar lugares para os residentes locais, que deixaram de conseguir utilizar o serviço devido à sobrelotação causada pelos visitantes. A medida foi um sucesso, agora quem pesquisa as rotas para chegar ao Park Güell encontra opções que levam a outra entrada do parque mais distante. Conhecer a notícia aqui.
  • Proibido filmar no metro da Sagrada Família: Recentemente surgiu uma trend no TikTok que consistia em gravar a ascensão das escadas rolantes da estação de metro da Sagrada Família. Com o telemóvel assente sobre as próprias escadas os turistas filmavam-se a subir, até o deslumbrante edifício surgir no background do vídeo. Esta trend foi repetida por milhares de turistas, o que causava congestionamento tanto nas escadas como na própria estação, provocando graves problemas de segurança. O município tomou medidas e atualmente é proibido a captação de vídeo naquela estação. A presença permanente das autoridades locais garante o cumprimento destas regras. Ver o vídeo.
  • Cancelamento de licenças a alojamentos locais: Barcelona decidiu não conceder novas licenças para alojamento local e não renovará as existentes, eliminando os apartamentos turísticos até ao final de 2028. A cidade tem atualmente 10.101 alojamentos locais registados e o objetivo é que esses imóveis entrem no mercado de habitação. Até lá, as licenças terão um prazo de cinco anos, conforme a nova lei do Governo Regional da Catalunha. Conhecer a notícia aqui.

A situação de overtourism em Barcelona é um exemplo claro dos desafios enfrentados por diversas cidades europeias que se tornaram destinos turísticos populares. O crescimento exponencial do turismo pode trazer benefícios económicos significativos, mas também pode causar problemas graves, como a gentrificação, o aumento dos preços de arrendamento e a deterioração da qualidade de vida da comunidade local. 

Para evitar situações de overtourism, as cidades devem adotar estratégias de turismo com foco na sustentabilidade desde o momento “zero”. A colaboração entre órgãos de gestão, empresas, residentes e turistas na criação de políticas de turismo é crucial, assim como a monitorização para a gestão de fluxos. Uma estratégia bem delineada que apresenta soluções criativas e individualizadas permite equilibrar o desenvolvimento turístico sem descaracterizar o destino e promovendo a qualidade de vida dos residentes, garantindo um turismo sustentável e positivo. 

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